Objetivo
Nas
últimas décadas, o corpo feminino passou por mudanças radicais no
que diz respeito à sua vivência física bem como à sua
representação nas mídias e no imaginário coletivo. Madalenas tem
por objetivo debater, através da arte, a questão da desigualdade
entre sexos mesmo nesta fase de mutação, destacando as formas
materiais e simbólicas da violência contra mulheres assim como
apontando ao público a relevância do tema da discriminação de
gênero. Tema amplo, irredutível a dinâmicas psicológicas
individuais, conexo a outras formas de preconceito (como a étnica) e
capaz de pôr em contradição cultura (mesmo ancestral) e direitos
humanos fundamentais. Enquanto laboratório teatral gratuito e aberto
a cidadania, Madalenas visa democratizar a geração de conhecimento,
auto-conhecimento e produção de arte especialmente no que diz
respeito às mulheres. Enquanto experiência intensiva, finalizada
por evento aberto, Madalenas tem por objetivo, também, multiplicar o
processo de empoderamento das mulheres e para gestão dos conflitos,
atendendo à comunidade e ao público amplo com uma ação
transformadora. Neste sentido, o objetivo é sensibilizar para a
necessidade de medidas efetivas (individuais e coletivas, imediatas e
de longo prazo) que diminuam a violência, direta ou indireta, contra
as mulheres. Enquanto laboratório, Madalenas tem por objetivo oferecer recursos
profissionais de intervenção teatral em âmbito social (metodologia
do Teatro do Oprimido).
Metodologia
A adesão do
Madalena ao método Boal (seja de jogos para atores e não atores
como de teatro-terapia e estética do oprimido) visando fazer do
teatro um instrumento de encontro, de diálogo e de transformação,
é completa. No mais tratando-se de interação, Madalena também
atinge a metodologia pessoal de Alessandra Vannucci professora efetiva do Departamento de Artes Cênicas (DEART), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) desenvolvida ao longo de anos de
experimentação no âmbito profissional da dança e do teatro. Mais
do que “peças”, buscamos montar um roteiro de ações em conflito
significativo, a que chamamos de “partitura”. Teatro essencial,
sem aparato, visando potenciar ao máximo os seus recursos humanos,
no que diz respeito à memória, vivência, imaginário das pessoas
participantes (atores e espectadores) e ao desejo humano de
encontrar, comunicar, trocar. Qualquer elemento (objetos, sons,
imagens, histórias, dados estatísticos, slogans, gestos,
provérbios, músicas, movimentos...) pode ser transformado em
material estético. Sua contundência depende do como está sendo
associado na partitura e então provocar, tanto nos artistas quanto
no público, uma auto-análise de nossa época quanto mais
surpreendente e livre de preconceitos. Neste sentido, o procedimento
artístico não visa somente o produto (espetáculo), mas
principalmente a multiplicação dos meios de produção da arte
(formação de atores e formação de espect-atores ou espectadores
ativos, mobilizados). Dependendo do material recolhido, trabalha-se
uma forma "fechada" (performance ou peça) ou uma forma aberta
(teatro-fórum), em que apresenta-se uma história baseada em fatos
reais em que personagens oprimidos entram em conflito com seus
opressores (cada um defendendo os seus respectivos desejos e
interesses); sucessivamente, a platéia é convidada a substituir em
cena o oprimido (que luta para transformar a sua realidade) e buscar
alternativas para o problema encenado.